Ricardo Chaves - ZH
Porto Alegre, sede da Copa 2014Há pelo menos 30 anos vou a estádios de futebol
tocer pelo meu
time. Nesse tempo todo, nunca passei por uma situação como a de ontem, no Olímpico. Mesmo estando a torcida exaltada por todo um clima de guerra criado pela partida anterior em Belo Horizonte, não houve nenhuma manifestação física disso. Gritaria e algazarra, sim, mas nada que justificasse temor pela
segurança coletiva, muito menos barrar minha entrada e a de outros 1999 torcedores que tinham ingresso na mão.
Todo mundo cantava, pulava e bebia em volta do estádio, esperando a hora de entrar pra ver o jogo. A mistura do álcool, euforia e o resultado do rival no dia anterior, gerou uma massa com conteúdo perigosamente inflamável. Perto da hora do jogo, a movimentação começou. Tudo normal, filas se formando em cada portão. Aí alguém resolveu fechar um
desses artefatos de metal que separa uma galera enlouquecida do que eles mais querem fazer na quinta à noite.
Inconsequentes , riscaram o fósforo. Em seguida, outros portões fizeram o mesmo, e quem antes cantava começou a não gostar muito do que estava vendo. Ou, melhor, não estava vendo. Começou uma peregrinação na volta do estádio, todos querendo entrar de algum jeito, em qualquer portão. Todos fechados. Pressionaram por pouco tempo, tendo em vista que
brigadianos a cavalo foram enviados para dispersar o aglomerado. Em se tratando de futebol é uma triste rotina. Não há mais romance e elegância, no lugar deles agora jogam ódio e truculência. Em poucos minutos, correria, vidros quebrados, pessoas chorando, o caos. E em se tratando de
BM, digamos que ultimamente o recalque impera fardado, de capacete e
cacetete. Dialogar pra que, se descer a porrada e mais eficiente? Tão culpados como a brigada, um punhado de
pseudo-torcedores que aproveitaram o momento para
vandalizar o
patrimônio do clube. Chamo de
pseudo-torcedores porque duvido que iriam entrar no estádio. Tem o cara aquele que vai na festa só pela cerveja,
né ? Pois é, esses infelizes vão só pelo tumulto. Fiquei observando um deles por uns 10 minutos. Não gritava ou mostrava seu ingresso como a maioria dos outros. Limitava-se a uma rotina de
procurar objetos para jogar nas vidraças do Quadro Social. E foram várias, mesmo com pessoas circulando muito próximas do alvo. Por sorte, nenhum pedaço de tijolo que ele jogou acertou ninguém, só conseguiu espatifar um dos vidros.
É no mínimo despreparo da
diretoria gremista não preencher alguns requisitos importantes para mandar um jogo. Capacitar os fiscais de portão para terem as informações precisas da entrada dos torcedores, avaliarem a capacidade do local e terem o mínimo de
tato para tratar uma multidão no
brete. A
justificativa era não haver mais lugar. A orientação, ir pra casa. Nesse mesmo momento, no rádio e no celular, chegava a prova em contrário, jornalistas diziam e amigos comentavam que tinha espaço. Não havia portanto superlotação, único motivo possível para trancar portões. O tumulto poderia ter sido evitado se a coisa toda fosse conduzida com pessoal mais preparado e de uma maneira mais
sutil. Não dá pra tratar uma semifinal de Libertadores como um jogo normal, fato.
:/