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5.2.11

O Guri, o Tema e a Surra

publicado em 27/08/2005

Nunca fui muito fã de estudar. Aliás, continuo não sendo. Numa manhã de 1983, a professora Maria José (vou ter que fazer um post sobre ela, uma lenda do Colégio Farroupilha) de matemática, 6ª série, passou exercícios para serem feitos em casa. Obviamente eu não era chegado a fazer o tema, independente da matéria. E pra complicar, naquele dia tinha jogo no campinho. Na real todos os dias tinha, mas um pretexto sempre nos ajuda a cometer a infração. Cheguei do colégio, almocei e fui ver um pouco de TV (estudos constatam que estudar logo após as refeições faz mal). Logicamente, o pouco virou muito e, quando me dei conta, tava quase na hora de fardar e ir pro campo. O "estádio" ficava espremido entre dois muros, um do meu prédio e outro do vizinho, fazendo com que não existisse linha lateral. Tabelinha com a parede era perfeitamente normal, só tinha tiro-de-meta e escanteio. Arremesso lateral só se alguém mandasse por cima dessas paredes de 3m. Construído pelo nosso zelador, o Seu Oliveira, que assim controlava nossos hormônios adolescentes. Mantinha a gurizada longe do perímetro do edifício, diminuindo assim a preocupação dele e, claro, os danos ao patrimônio do condomínio. Rolou a peladinha, como de costume. Depois do jogo sempre tinha uma sessão de comentários. Da jogada mais bonita à mais tosca, da "ponte" ao "frango". Assim acabou também aquela tarde. Hora de subir, tomar banho e jantar. Mas não sem antes esconder os livros de matemática que continham o odiado tema. Botei o NAME e o FTD (a Maria José chamava os livros pelo nome, das editoras) embaixo do meu calceiro. Em algum momento entre o banho e o jantar, meu pai chegou em casa. Sem muitos rodeios, foi direto ao assunto: "Fez o tema Daniel?". O sorriso pela tarde futebolística sumiu, as mãos suaram e a cabeça ficou a mil tentando achar uma desculpa. Em segundos veio a tradicional, "não tinha tema hoje pai". Não colou. Meu pai nunca foi do tipo bravo, mas naquele dia em especial ele tava. Talvez pela minha reincidência no assunto ou problemas no trabalho dele. Em segundos ele achou os livros, constatando que eu não tinha feito o que deveria fazer. A casa caiu. Só vi quando ele pegou uma espada de plástico, imitação da Excalibur, grande, bradou alguma coisa e desceu a lenha. Apanhei que deu gosto. Pior, com minha própria arma. No outro dia, eu ostentava alguns vergões nas pernas. Até recusei o convite pra jogar, alegando que o departamento médico não tinha me liberado para a partida. Esse deve ter o último tema que deixei de fazer e um dos motivos de ter errado apenas duas questões de matemática no vestibular anos depois.

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