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14.5.07
O gol do Guri
Assim como todos têm seu Jogo do Século, tendo participado ou não, o guri tem o dele. Aconteceu no Pátio dos 11, Colégio Sevigné, em algum mês de 1981. Os cobiçadíssimos minutos do recreio não serviam para outra coisa além de jogar futebol. A merenda era engolida em menos de 1 minuto, mesmo com as recomendações da mãe "tu tem que mastigar bem guri!". Que nada. Segundos poderiam se decisivos, a mastigação que esperasse. Uma vitória ali valia a soberania entre as 4ªs séries da manhã. O guri não tinha muto talento, mas era voluntarioso. E polivalente. Nesse dia faltou o goleiro, posição mais ingrata do futebol infantil, eterno destino dos piores. "Eu jogo no gol", ele disse. Luvas eram um luxo na época. Foi então de mãos vazias defender a meta e a honra da turma. Jogo pegado, caneladas, correria, gritedo. Gol que era bom, nada. Pouco movimento na área do guri, a sorte parecia estar jogando do lado dele. Lá pelas tantas, a Lei de Murphy funcionou. Chute fraco, bola desvia no zagueiro e engana o guri. Gol deles. Abatimento geral e o guri pensando "bem que eu ainda poderia estar saboreando o sanduíche de presunto e queijo com suco da uva que a mãe fez, bem tranquilo". Segue o jogo, e eles erram uns quantos gols. Como em 80 já valia a máxima "Quem não faz leva", sai o empate. Faltava só um, mas o tempo era curto. Curtíssimo. Contra-ataque deles, defesa aberta, todo mundo cansado. Tocam a bola pro lado direito, onde o canhoto deles morava. Zagueiro já vendido e o guri, cagado. Chute forte alto, o guri voa e espalma. Rebote deles, outro chute. O guri se levantando e a bola pega no peito dele, pura sorte. Uns passos pra frente e ele domina a bola, procurando alguém livre. Ninguém se habilita. Opções, bico pra fora ou tentar acertar o gol deles. Segunda opção, a escolha óbvia para um fedelho de 9 anos. Bate com toda a força. Pega na veia e vai direto pro gol. O goleiro deles só olha a bola entrar, incrédulo. A massa explode. O guri chora, porque a bola era pesada e o pé doía. "Gol de goleiro! Gol de Goleiro!" ele gritava. Sem tempo pra mais nada, deram a saída de bola e tocou a sineta. Fim do recreio, início de um mês de aclamação na turma.
Chegando em casa, foi contar todo orgulhoso a peripécia. Sem querer, entregou o pecado da merenda a jato. Ao invés de honras, uma bronca. Assim foi encerrada a carreira de um promissor craque de futebol.
:)
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