Lá em 1984, numa das várias férias em Getúlio Vargas, terra da família do lado do pai, o guri fuçava nas coisas do primo mais velho. O destino era, quase sempre, os LP`s. Nesse dia, entre várias capas conhecidas de rock`n`roll, a que mais chamou atenção foi uma que tinha na capa 4 caras estranhos, de camisa vermelha com batom da mesma cor e gravata preta. Como todo o bom nerd, o guri era um nato. Então, o interesse por qualquer coisa eletrônica, inclusive música, já existia naquela idade. O disco era The Man Machine, o 8º do Kraftwerk. O aparelho, um Gradiente modelo 160, que dava choque na maioria das vezes que o guri ligava. O prato era um Garrard 50SB e o tape deck um s-95. Tudo isso tocava numas caixas da mesma marca do amplificador. Logo na primeira faixa, talvez uma das melhores introduções que a música eletrônica já produziu, o guri adorou. E repetiu umas 4 vezes The Robots, aumentando o volume até a tia Dirce, aquela dos melhores bifes do mundo, vir reclamar. Assim nascia o gosto do guri pela música eletrônica, justamente com Karl Bartos, Florian Schneider, Ralf Hütter e Wolfgang Flür, os pais dela. E assim era roubado mais um disco do primo Paulo.
24 anos depois, o não-tão-guri estava no aniversário de um amigo, que divide com ele o gosto pelos decibéis sintéticos. Conversa vai, conversa vem, o correligionário Mindu anuncia que estava negociando a vinda do, agora avô da música eletrônica, Karl Bartos para o Brasil. E como se não bastasse, para Porto Alegre. Dias depois veio a confirmação, a data e o convite para a área VIP. Euforia. Ontem, 22h, o guri pegou 4 vinis da discografia, inclusive aquele produto de furto, e se tocou pra encontrar o cara. A chuvarada bem que tentou estragar os planos. Não conseguiu. Mudança de local na última hora, correria, atraso na montagem do equipamento e o guri dando uma de roadie cibernético. Quase tudo pronto e o senhor com cara de poucos amigos, senta no sofá, com cara de menos amigos ainda. Alertado pelo produtor e pelo amigo, o guri já sabia que a tarefa dos autógrafos não seria das mais fáceis naquele dia onde nada dava certo. Na mais pura cara de pau, chegou, sentou no sofá, se apresentou como um fã de longuíssima data, contando que a culpa era dele pelo roubo do disco. Ganhou um sorriso e saiu feliz da vida com quatro bolachões autografados e dois muito obrigados. Agora sim tudo pronto mesmo. 2h da manhã, o iniciozinho de Pocket Calculator começa a atiçar a massa. Massa essa que era heterogênea, metade sabia o que estava ouvindo, metade não. Só que ninguém fica parado ouvindo as clássicas do quarteto. Pra estimular mais ainda, além da música tinha uma parafernália de vídeo, milimetricamente sincronizada com o que tava tocando. Fantástico. O corpo do vivente poderia até ficar parado, mas a alma dançava faceira. Foi nesse momento que o guri abriu um sorriso e se sentiu naquela tarde de verão, no calor da cidade do avô, ouvindo aquela música intrigante. Foi nesse momento também, que o guri sacou o celular pra fazer as duas piores fotos do evento (aqui, umas boas). E a pista já urrava enlouquecida. Depois vieram Numbers, Computer World, Trans Europe Express e muitas outras. Ficou de fora Hall of Mirrors, aquela que, caso algum leitor esteja perdido a essa altura do post, tocava no comercial da Starsax há duas décadas. Quase 2h depois o alemão encerrava o set, fechava os seus 3 MacBooks e saia quase como se nada estivesse acontecido. Frieza alemã no trato pessoal, mas consegue esquentar a pista sem muito esforço. Excelente.
:D
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