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31.5.13

O pedido


          Após decidirmos nos casar, decidimos também sobre as alianças. Depois de procurar em vários lugares, optamos por comprar em NY, pelo charme e pela metade do preço. Como seria complicado acertar em cheio o tamanho do dedo da Débora, sugeri irmos juntos até a joalheria, experimentar e comprar. Bem prático, não? Muito prático pra quem não quer surpreender a futura mulher com um pedido, como por exemplo, eu. Na primeira ida a loja o primeiro problema, minha aliança ficou apertada. Prontamente a vendedora, muito atenciosa, que nos atendeu mandou vir de outro lugar uma maior. Só que nessa manobra eu perdi dois dias preciosos e a primeira boa oportunidade: o edifício Empire State. Passados os dias, alianças compradas, sorriso no rosto, caminhando pela 5a avenida, tudo perfeito. Não fosse minha mente maquinando 24h por dia como diabos eu faria pra fazer a surpresa, claro. Dias antes havíamos passeado no Central Park, onde existe um lago com barcos a remo, local muito propício para esse tipo de surpresa, já vem praticamente com o romantismo e o choro incluídos. Mas, ficaria muito na cara, depois de ter as alianças na mão, chegar pra namorada e dizer: "vamos ali no Central Park dar uma volta de barquinho?". O tempo passava e minha ansiedade aumentava. Tinha a saída de reservar um bom restaurante e agir um pouco antes da sobremesa. Mas esse era o plano B, caso tudo mais falhasse. Para dificultar mais ainda, o hotel tinha um cofre no quarto, onde hospedamos as alianças com segurança e conforto, numa caixinha bonitinha com um lacinho daqueles bem desgraçados de fazer igual. E claro que a Débora conferiria diariamente se elas estavam lá. Eu precisava esperar um momento a sós com elas pra desmontar a embalagem, pegar as alianças, remontar tudo e colocar no mesmo lugar. Durante um banho dela, consegui. Me superei e refiz os dois laços, com alta dose de motricidade fina. Ficou igual, acima da qualquer suspeita. Dali pra frente passei a andar com as alianças no bolso, esperando a melhor oportunidade de cumprir o protocolo. Passei um dia inteiro, colocando a mão no bolso de 5 em 5 minutos pra conferir, tentando disfarçar e suando frio. Se eu perdesse uma delas, provavelmente a primeira crise da relação se instalaria. As duas então, homicídio certo. Pra piorar mais ainda minha situação, como o dedo dela é bem mais delicado que o meu, uma aliança é menor que a outra, praticamente cabem uma dentro da outra. Dá pra imaginar meu pânico a cada checagem que eu fazia e parecia ter apenas uma no bolso? É amigo, tava complicada a coisa. Passeamos, comemos, visitamos lojas, entramos em um museu e eu seguia, de 5 em 5 minutos metendo a mão no bolso e suando frio. No outro dia, a sorte virou. Débora seguir um roteiro que passava bem perto do parque. Em certo momento, saímos de uma loja e ela me convida para dar uma caminhada na calçada do parque, do outro lado da rua. "Agora vai!", exclamei comigo mesmo. Um instante de hesitação meu enquanto atravessava a rua: avistei  umas carruagens daquelas onde o casal pode dar uma volta no Central Park. E agora? Carruagem ou barquinho? Optei pelo barquinho, onde tudo dependeria de mim, inclusive a remada. Propus então uma embrenhada no parque, "vamos por aqui, é mais legal...". Assim fui atraindo ela para perto do lago, como quem não quer nada. Quando ela viu, me convidou logo para uma volta. Quase me entrego, aceitando com uma certa euforia não muito peculiar. O lago é pequeno, facilitou meu trabalho, fui remando e procurando um lugar tranquilo, sem muitas testemunhas. Achei depois de alguns minutos, perto de uma ponte, o cantinho perfeito. Parei perto de uma ilhazinha, com a desculpa de ver uma tartaruga tomando sol. Nervoso, pois estava a tempo demais com as duas mãos nos remos e sem poder verificar o bolso, fui logo preparando terreno. Pedi pra ela fechar os olhos, pois não teria como disfarçar e sacar o par de alianças em segurança de dentro do bolso. Peguei, segurei a mão e pedi, com todo o amor que sentia por ela. Ela aceitou, ainda bem! Ficamos ali curtindo e sendo felizes pra sempre. Segundos depois, ouvimos duas mulheres comentando o que havia acontecido, da ponte, se derramando em lágrimas. Sempre ouvi que os americanos valorizavam esse momento, mas não sabia que era tanto assim. O cara que estava com elas me elogiou e desejou parabéns, o que só me deu mais certeza do que eu estava fazendo. Fiquei bem orgulhoso de mim e do meu amor pela Débora.

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