O guri e o microondas

Ele já não era tão guri assim quando seus pais compraram o primeiro microondas, tudo bem. Tampouco soube precisar quanto tempo depois colocou suas mãos no primeiro pacote de pipocas, daquelas pra estourar nessas máquinas maravilhosas. Mas, tem certeza que foi nesse dia que virou motivo de chacota, mais uma vez. Bem deitado, vendo um filme na TV com seus pais, vem a idéia de obsequiá-los com a iguaria. Sem querer interromper o filme, comunica: "farei pipocas" e vai pra cozinha. Chegando lá, rapidamente pega o pacote no armário, só não lembra se tinha era modelo Paul Newman muito-sorridente ou Orville Redenbacher gravatinha-borboleta-super-estaile. E lê a bula. Mal e porcamente claro, prestando atenção apenas na parte que diz "quando o intervalo entre os estouros ficar maior do que 2 segundos, desligue" ou algo do gênero. Aperta uma combinação de teclas e volta pro filme pensando "botei um tempinho a mais, mas fico controlando os pops e os corns". E o filme tava bom, bem bom. E as pipocas lá, girando. E o filme continuava bom. Nisso se passaram 10 dos 30 minutos que o microondas ficou programado pra funcionar, até que um cheiro estranho invadiu o ambiente. A mãe, sempre ligada, grita: "As pipocas guri!". O guri grita um palavrão qualquer. O pai ri, como sempre. Lá vai o guri correndo pra cozinha pra ver o estrago. Um fedor tomava conta do ambiente. Melhor, O Fedor. Fumaça saia enlouquecidamente do aparelho, que continuava carbonizando as pipocas. Apagado o incêndio com o botao de cancelar, era hora de dar uma olhada no que sobrou. O pacote, que era branco e ficou marrom, continha uma massa preta disforme. Parecia um meteoro, do tamanho de um melão. Em meio a um misto de risadas e cara-feia, foi lá mostrar o resultado pros pais. O episódio foi lembrado por várias semanas, porque TUDO que era colocado no microondas exalava o tal fedor. Aliás, é lembrado até hoje, em 90% das vezes que se faz pipoca lá em casa.

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