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11.12.08

O Guri e a Copa



Há exatos 25 anos, o guri foi convidado para dormir na casa de um colega dele, o Márcio Krug. Um antro colorado. Lá viviam ele e a mãe, Dona Ana, dois declarados torcedores do Sport Club Internacional. Os pais do Márcio eram separados, o irmão Marcelo e o pai Cláudio, também colorados, moravam perto dali em outro apartamento. Ou seja, inimigo em franca maioria, mesmo com 50% de presença. Como com 11 anos não se tem manias suficientes para elevar o futebol acima da amizade, ele aceitou. E como o poso garantia, além da pizza, assistir os 90 minutos da final do Campeonato Mundial de Clubes daquele ano, levou junto com a escova de dentes o manto sagrado tricolor. Jogavam Hamburgo x Grêmio, só isso já basta pra imaginar o tamanho da euforia que tomava conta do guri, que recém tinha descoberto a paixão pelo futebol e pelo time azul. Chegou cedo para o evento, o convite era para as 16h, 5h antes. Pra passar o tempo, jogou objetos nos ônibus que passavam lá embaixo na rua, bagunçou a coleção de mini-elefantes indianos da dona da casa, entre outras brincadeiras saudáveis. Comeu pizza feita pela Dona Ana, porque naquela época tele-entrega era sonho de consumo. Durante o jantar, a mãe do amigo começava a se render ao gremismo, manifestando apreço pelas coxas do Renato Portaluppi, sem a menor vergonha. Enfim, hora do jogo. Hora essa que não era de guri de 11 anos estar acordado, quase meia-noite. Grande coisa, nem o pai nem ninguém o fariam dormir naquele momento. Não com Mazaropi, Paulo Roberto, Baidek, De León, Paulo César Magalhães, China, Osvaldo, Paulo César Caju, Renato, Tarciso e Mário Sérgio entrando em campo. E o melhor argumento: era sábado. O jogo começou tenso, como qualquer final. Os dois times nervosos e o guri ali, agarrado na camiseta. Nem piscava, comendo mais uma fatia de pizza que tinha sobrado da janta. No fim do primeiro tempo, 1 x 0 Grêmio. O guri? Eufórico como ganso novo em taipa de açude. No intervalo, Dona Ana exalta mais uma vez - mas que rico par de pernas - o autor do gol tricolor. O jogo recomeça e com ele vêm mais tensão e mais sofrimento. No final do primeiro tempo, o Hamburgo empata, o guri chora e Dona Ana consola. Prorrogação. Mesmo para um coração de torcedor jovem em pleno desenvolvimento, o efeito é devastador. E a trasmissão ainda tinha um maldito zumbido, que zumbiu por toda a eternidade que durou a partida. Olhos fechados, unhas roídas, voltas na sala, idas ao banheiro, tudo era feito para "ajudar" o time. Logo no início, 2 x 1. Renato de novo, numa jogada praticamente igual ao primeiro gol, quase um replay. Mal a bola balançava as redes e a 24 de Outubro já ouvia um grito enlouquecido no quarto andar de um prédio na esquina com a Dr. Timóteo. Depois disso, só alegria. O jogo acaba. Nessa hora os três já pulavam abraçados. Festa no Japão, festa no Brasil, festa em Porto Alegre! Foi uma noite linda, que acompanha o guri por estes anos todos, como um brinquedo de estimação. Ninguém vai tirar isso dele, aconteça o que acontecer, ganhe o título que ganhar, jamais. Ficou gravado na memória e no coração, pra sempre.

:)

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