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27.2.09

Quem desdenha quer comprar

Não gostava de cachorros. Era simplesmente impossível dividir o mesmo teto com uma bola de pelos quadrúpede e que ainda por cima babava. Nunca teve nenhum animal desses caninos sob o seu teto. Mas teve uma filha. Um ano depois, outra. Duas gurias inteligentes e lindas, orgulho de qualquer pai.

Num dia qualquer, ambas reclamaram o direito à posse de uma dessas criaturas desprezíveis. Gelou. E negou, peremptoriamente. Ainda se deu o trabalho de pesquisar diversas fontes para, com propriedade, justificar sua decisão. Nenhum pai gosta de ser rotulado como autoritário, ainda mais pelas filhas menores de 10 anos. Piorou, sua mulher engrossou a lista que colocaria o bicho confortavelmente instalado na democracia de sua casa. Pouco tempo depois da maioria simples, um poodle minitoy passeava no seu carro, ofegante, em direção ao apartamento da família. A situação ficou caótica para um e divertida para outros 3. Espalhados pela casa se viam pelos, mijo, merda, tudo misturado com leite e ração. Ambiente super perfumado. Do hall ao banheiro, tudo lembrava diariamente o dono da casa da existência do cusco.

O aumento dos gastos da família já era sua preocupação de longa data e agora, pra piorar, mais uma boca pra alimentar. O ódio se instalava no seu coração. Tentou por um par de meses dificultar a permanência do animal na casa, se recusando a entrar no revezamento para levar o bicho pra passear e nunca repondo a comida nem a água. Por ele, quanto mais cedo o cusco esticassse as quatro canelas, melhor. Mas, ao contrário do seu desejo, ele crescia. Aos 3 meses já era o maior minitoy do mundo. Comeu sapatos, mordeu o sofá e insistiu em namorar com a perna esquerda do "dono".

Estranhamente, essa vontade - de ele lá e eu aqui - nunca foi mais forte do que seu riso interno, ato que denunciava a diversão que as aprontadas do bicho lhe proporcionavam. Numa tarde, passeando com ele - sim, já havia se rendido ao tal revezamento - contou tudo isso para um vizinho, que surpreso, disparou:

- Se cresceu tanto assim e vive te incomodando, por que não devolves ou reclama onde comprou?
- Devolver? Nunca! Agora já me apeguei.

E foi em frente com seu fiel amigo peludo.

:)

10 comentários:

Carlos Neujahr disse...

"... peremptoriamente ..."

credo, fui até procurar o que isso significava...

BF&C: há vários anos contribuindo para o aumento da intelectualidade de seus leitores...

:)

Daniel disse...

agradecemos a preferência! :P

Nádia Lopes disse...

oi, Daniel

gostei ouvindo lá e gostei lendo, aquela da barraca,que me fez marejar os olhos, vai pintar aqui também?

beijo

Daniel disse...

claro queridíssima, em breve num post perto de você.

Anônimo disse...

hehehe... essa é a história do meu pai??? mas era cocker... hehehe...e passear acho q foi só 1 vez... huahuahuahua...

Luciane Slomka disse...

Adorei que tu postou! :)

Luciane Slomka disse...

Ah, e agora tu tem uma bichinha Amy a quem tu te apegou... :*

AdriB. disse...

As aspas deveriam ter ido no "namorar" e não no "dono". Pq vamo combinar: "namorar" é um eufemismo e tanto para o que esses putinhos quadrúpedes fazem com as pernas da gente.
bjs

Marcos Gazzana disse...

peremptoriamente!!! Grande!!

Anônimo disse...

É bem isso que essas coisinhas fazem conosco. E aí a gente começa a ter um, dois, três... E nem sempre só cachorros! ;)


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